Já faz alguns dias que terminei de ler a bela graphic novel de Peter
Kuper, Ruínas, e desde que terminei queria indica-la imediatamente aqui. Acho que demorei
porque ainda a estava absorvendo e sendo levado por ela, assim como a obra é
levada por uma borboleta monarca que voa pelas páginas de cores frias e
cinzentas que contrastam com as da própria borboleta e o restante do livro,
carregado por cores quentes e alegres. A monarca inicia a sua migração em uma
estrada deserta na America do Norte até as florestas do estado de Michoacán, no México.
Percorre milhares de quilômetros, exatamente como todas as outras da sua
espécie de borboleta que o fazem todos os anos. Essa nossa guia alada passa por
problemas sociais e ambientais de diversas cidades, tanto americanas quanto
mexicanas, mostrando que as dificuldades existem tanto em um país como outro.
Talvez a única maneira de transpor os muros físicos que tentam erguer e os
muros da xenofobia crescentes no mundo seja exatamente a liberdade. O percurso
do bater de asas dessa borboleta nos traz as escolhas, as liberdades, dos
personagens e suas consequências.
Tirando esses paralelos e divagações quanto ao que o autor quis dizer
sobre mundo real e suas crises atuais, a obra não é um livro-reportagem em
quadrinhos. Isso, porém, não a afasta tanto assim dos elementos verídicos que
fazem parte da rotina dos personagens principais, o casal norte americano
George e Samantha, que se mudam para a cidade de Oaxaca, no México. Ela busca
principalmente inspiração, no caso, Samantha escreve um livro sobre cultura
mexicana e tenta exorcizar seu passando, revivendo constantemente diversos
momentos de uma outra vez anos atrás que viajou para lá. E, também, uma outra
perspectiva para suas vidas, principalmente em relação a George que perdeu o
emprego recentemente e não sabe o que fazer. Tentam se reencontrarem entre si e
consigo mesmos apostando que essa viagem traga um norte para suas decisões e
talvez algo mais.
Há algumas referências na obra, algumas vezes, bem engraçadas |
Os elementos reais ao qual se apropriou Kuper, que morou na cidade
durante dois anos com família, como a crise política que envolveu o governador
local e o confronto da polícia com professores manifestantes que durou meses, prendeu
pessoas, deixou feridos e até mesmo mortos, dão um saborzinho mais caliente,
na já tão completa e sensível graphic. Alguns personagens coadjuvantes, como a
empregada Angelina e o ex fotojornalista Al, esse último inspirado em uma
pessoa real, trazem momentos cômicos e significativos. Muitas vezes
influenciando expressivamente o destino do casal.
Além de tudo, Kuper foi premiado com o Eisner de Melhor Álbum Gráfico de
2016, com certeza muito merecido. Uma obra incrível que deve ser leitura
obrigatória para os que curtem a nona arte e também admirada por todos que
gostam de uma boa história com uma bela arte e um excelente senso de humor.
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