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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Ruínas de Peter Kuper


Já faz alguns dias que terminei de ler a bela graphic novel de Peter Kuper, Ruínas, e desde que terminei queria indica-la imediatamente aqui. Acho que demorei porque ainda a estava absorvendo e sendo levado por ela, assim como a obra é levada por uma borboleta monarca que voa pelas páginas de cores frias e cinzentas que contrastam com as da própria borboleta e o restante do livro, carregado por cores quentes e alegres. A monarca inicia a sua migração em uma estrada deserta na America do Norte até as florestas do estado de Michoacán, no México. Percorre milhares de quilômetros, exatamente como todas as outras da sua espécie de borboleta que o fazem todos os anos. Essa nossa guia alada passa por problemas sociais e ambientais de diversas cidades, tanto americanas quanto mexicanas, mostrando que as dificuldades existem tanto em um país como outro. Talvez a única maneira de transpor os muros físicos que tentam erguer e os muros da xenofobia crescentes no mundo seja exatamente a liberdade. O percurso do bater de asas dessa borboleta nos traz as escolhas, as liberdades, dos personagens e suas consequências.   
   
Tirando esses paralelos e divagações quanto ao que o autor quis dizer sobre mundo real e suas crises atuais, a obra não é um livro-reportagem em quadrinhos. Isso, porém, não a afasta tanto assim dos elementos verídicos que fazem parte da rotina dos personagens principais, o casal norte americano George e Samantha, que se mudam para a cidade de Oaxaca, no México. Ela busca principalmente inspiração, no caso, Samantha escreve um livro sobre cultura mexicana e tenta exorcizar seu passando, revivendo constantemente diversos momentos de uma outra vez anos atrás que viajou para lá. E, também, uma outra perspectiva para suas vidas, principalmente em relação a George que perdeu o emprego recentemente e não sabe o que fazer. Tentam se reencontrarem entre si e consigo mesmos apostando que essa viagem traga um norte para suas decisões e talvez algo mais.
Há algumas referências na obra, algumas vezes, bem engraçadas

Os elementos reais ao qual se apropriou Kuper, que morou na cidade durante dois anos com família, como a crise política que envolveu o governador local e o confronto da polícia com professores manifestantes que durou meses, prendeu pessoas, deixou feridos e até mesmo mortos, dão um saborzinho mais caliente, na já tão completa e sensível graphic. Alguns personagens coadjuvantes, como a empregada Angelina e o ex fotojornalista Al, esse último inspirado em uma pessoa real, trazem momentos cômicos e significativos. Muitas vezes influenciando expressivamente o destino do casal. 

Além de tudo, Kuper foi premiado com o Eisner de Melhor Álbum Gráfico de 2016, com certeza muito merecido. Uma obra incrível que deve ser leitura obrigatória para os que curtem a nona arte e também admirada por todos que gostam de uma boa história com uma bela arte e um excelente senso de humor.