O italiano Ugo Bertotti desenha essa bela graphic novel a partir dos relatos da
fotojornalista Agnes Montanari, que colabora com o livro não só com seu
depoimento, mas também com fotos tiradas durante o tempo em que ficou no Iêmen.
Então, ainda não sei por que do nome dela não aparece como autora ou coautora
do livro. Um pouco do mesmo machismo do Iêmen pode ainda ressoar com alguma
intensidade no mundo ocidental.
Enfim, voltando a obra, mais especificamente ao subtítulo em português que fala sobre uma revolução silenciosa. Essa tal revolução não chega nem a ser um ruído, talvez um sussurro abafado dentro de um niqab (vestimenta típica que cobre o corpo todo das mulheres deixando apenas seus olhos a mostra) de tão silenciosa, mas não que não tenha sua relevância. Tem sim, e muita, principalmente para as mulheres de lá. Quero dizer com isso que diante da sociedade machista, misógina, retrógrada em que elas vivem, não há mudanças significativas no comportamento dessa sociedade em si. Existe sim uma mudança nos grupos de mulheres que sofrem com a total falta de estrutura para dar-lhes qualquer apoio, suporte ou orientação. As histórias deixam isso bem claro. E para quem pensa que esses pequenos sussurros revolucionários são recentes, precisa realmente ler a obra. Elas já vêm mostrando sua força e vontade de mudar há muitos anos.
Enfim, voltando a obra, mais especificamente ao subtítulo em português que fala sobre uma revolução silenciosa. Essa tal revolução não chega nem a ser um ruído, talvez um sussurro abafado dentro de um niqab (vestimenta típica que cobre o corpo todo das mulheres deixando apenas seus olhos a mostra) de tão silenciosa, mas não que não tenha sua relevância. Tem sim, e muita, principalmente para as mulheres de lá. Quero dizer com isso que diante da sociedade machista, misógina, retrógrada em que elas vivem, não há mudanças significativas no comportamento dessa sociedade em si. Existe sim uma mudança nos grupos de mulheres que sofrem com a total falta de estrutura para dar-lhes qualquer apoio, suporte ou orientação. As histórias deixam isso bem claro. E para quem pensa que esses pequenos sussurros revolucionários são recentes, precisa realmente ler a obra. Elas já vêm mostrando sua força e vontade de mudar há muitos anos.
Basicamente são três mulheres que nos guiam sobre os
costumes e suas histórias de um mundo muito distante do nosso, sendo muito,
muito distante culturalmente. O que elas sentem ou almejam ninguém se importa.
Apenas seus atos rebeldes são notados e na maioria das vezes há alguma forma de
punição. Uma simples ida a janela de casa sem o niqab pode ser interpretado
como um ato de insurgência, pode custar a vida de uma mulher e seu agressor
ficar impune. Atos que vão além da coragem e da rebeldia. Atitudes que são
necessárias muitas vezes por serem a única alternativa. Elas chegam a pagar um
preço muito alto por suas posturas e quererem dar um país mais livre as futuras
gerações de mulheres iemenitas.
Pode se encontrar referências a outras obras relacionadas a
nona arte e ao jornalismo. Por exemplo, o traço de Bertotti e o tema são muito
ligados a Persepólis de Marjane
Satrapi, aliás o Oriente Médio, universo muçulmano e guerras de cunho religioso
são retratados de forma recorrente no universo do jornalismo e quadrinhos.
Talvez pelas ações terroristas diretamente ligadas a grupos extremistas que repercutem
de forma intensa e exaustiva nos meios de comunicação. Talvez pelos intensos
conflitos armados em si que também ganham notícias diariamente. Talvez pela
curiosidade em geral do povo ocidental pela cultura em torno do islamismo.
Talvez, e prefiro acreditar nesse, seja pela tentativa universal de empatia e de
se solidarizar de alguma forma com alguns grupos, sobretudo o de mulheres, pela
maneira como são tratados pelos regimes que têm como uma de suas bases políticas
o islamismo. Na maioria das vezes tratadas com muita repressão e violência.
O trabalho
fotográfico de Montanari é outro aspecto ligado ao
tema jornalismo/quadrinhos que fazem de alguma forma alusão a uma outra graphic
chamada O Fotógrafo de Didier Lefèvre que narra sua viagem pelo Afeganistão
com um grupo do Médico Sem Fronteiras em meados dos anos 1980. Em ambos os
quadrinhos, as fotos têm um papel fundamental de corroboração com a história ou
as histórias. Usam de forma a impactar com mais intensidade o que já fora
registrado em desenhos. Deixando tudo ainda mais humanizado. Criando uma
narrativa única, podendo se tornar um gênero com características próprias do
híbrido entre quadrinhos, jornalismo e fotografia.
Há uma passagem onírica bem colocada e outra em que há
uma lenda sobre a fundação da cidade Sanaa, capital do Iêmen, ambas na última
história que fala da vida de Aisha e de outras mulheres que ela tem contato. No
documentário em forma de desenho animado Valsa
com Bashir dirigido por Ari Folman, que depois virou uma graphic novel, é
recheado de momentos de sonhos, ou pesadelos, que percorrem a obra toda. O
próprio Folman disse que a animação foi o meio encontrado para dar forma a esses
sonhos. Com um documentário comum não seria possível, ou até seria, porém, os
custos de produção seriam astronômicos. No Mundo de Aisha são poucas passagens
desse tipo, diferente da obra de Folman, onde os sonhos são fundamentais para a
narrativa, mas no livro de Bertotti esses momentos fazem uma metáfora ao
comportamento opressor recebido pelas as mulheres, contando até sua provável
origem, antes mesmo da criação do islamismo.
Com todos esses aspectos O Mundo de Aisha se torna uma
obra sobre a terrível realidade da vida das mulheres iemenitas. Também
é inspirador conhecer a história de força e de organização dessas esposas,
filhas, mães, ao querer uma vida melhor, um Iêmen mais justo para suas
mulheres. Pode até ser um movimento muito silencioso, mas que é poderoso e inevitável.
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